quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Relato do parto da Cecília pela Lorena

Este relato é muito especial! Demorou para ser feito e merece um post todinho pra ele!
Quem quer conferir a minha versão dos fatos tá aqui ó: O dia em que eu doulei minha doula.


Relato de Parto da Cecilia

Quem conhece minha história sabe que o parto do meu primeiro filho foi desastroso! Essa palavra pode ser forte para o contexto, mas é a única palavra que encontro. Meu menino querido nasceu cheio de saúde e eu....sobrevivi.  Desde então, vinha seguindo acompanhada da mesma pergunta: o que aconteceu de tão errado no parto do Vicente?eu queria tanto um parto normal, e não foi o que consegui? Porque me sinto assim? E esse questionamento seguiu na gestação da Cecilia, que veio seguido de um grande medo. Medo de não conseguir, de novo, lidar comigo mesma, com minhas emoções, minhas dores, não só as do parto, mas todas as dores que ficam escancaradas durante o trabalho de parto.Cheguei a pensar em fazer terapia, marquei uma consulta e lá fui eu. Achei bacana a proposta da psicóloga, mas no fundo sabia que o processo era tão íntimo e tão meu, que no fim ia acabar não resolvendo, desisti.
E assim seguiu a gestação da Cecilia. Eu me sentindo tão feliz por carregar no ventre minha amada filha, mas seguindo sempre angustiada com essa mesma pergunta: “o que aconteceu?  O que preciso descobrir para que tudo seja diferente? Sim, agora já sei que a chave de tudo é a respiração, mas será que somente a respiração irá resgatar toda essa desconexão comigo mesma que eu carrego? Será que a respiração é a chave de tudo? Ahhhh, duvido!”
Com 37 semanas, meu obstetra pediu para que eu parasse de tomar a progesterona e depois de 3 dias eis que estava eu deitada no sofá assistindo novela das 8, quando sinto um líquido sair. Corri para o banheiro e cheirei a calcinha umas 30 vezes, não tinha cheiro de nada. Voltei para a novela, novamente um pouco mais de liquido. Hum, vou ligar pra Marilia ( minha doula fofa). “Má, tem um líquido aqui, será?” Ela me disse: “ Espera pra ver se sai mais”. Voltei para novela, saiu mais. “É, deve ser então.” Liguei para o médico e ele disse pra eu ir ao hospital. Então pensei, vou esperar acabar a novela, tá tão boa! Acabou a novela, fui tomar banho. Arrumei as coisas, fui até o quartinho da Cecilia, montei um altarzinho, fiz uma oração e fomos, eu e o Juliano, meu marido, para o hospital.
Meus sogros ficaram com o Vicente, que ficou em casa, todo ansioso para ter novidades da irmãzinha!
Chegando no hospital, fui avaliada. Como não tinha contrações ainda, já estava mesmo esperando não ter dilatações. O médico pediu para que eu ficasse internada por causa da bolsa rota.
Passei a noite toda pensando se dormia ou fazia exercícios para desencadear o trabalho de parto. Resolvi dormir. Mas não conseguia. Então alternava deitada e sentada, meditando. No meio da noite não aguentava mais as enfermeiras me perguntando se eu estava com muita dor. Era o que eu mais queria estar sentindo, e não estava, minhas contrações estavam ainda super fraquinhas e irregulares, e tinha que ficar afirmando toda hora isso para elas. Foi difícil.Mandei uma mensagem pra Marília lá pelas 4, estava precisando de um colo...hehehehe. Ainda bem que ela não viu, era só o que faltava ter que ir ao hospital aquela hora! Hahahaha, só eu mesmo!!!!
No outro dia cedo, acordei disposta, as enfermeiras quase já não entravam mais no quarto a pedido do meu médico. Então fazia exercícios, andava pelos corredores, subia e descia escadas....mas naaada. À tarde, naaada. Então chegou perto das 3 da tarde, eu acho, pedi para ficar sozinha no quarto. O Ju e a Marília saíram. Liguei umas músicas da Enya, que tinha no computador, e entrei nelas. Foi uma viagem. Que delicioso. Não via mais nada, e não tinha mais vergonha de ninguém.Não me importava se vissem eu dançando ou o que fosse, estava eu e ela, nos harmonizando para receber o que estava por vir. Foi então que as contrações deram o ar das graças! E aconteceu tudo como tinha mesmo que acontecer. Demorou tanto para virem as contrações efetivas, que quando realmente vieram eu me amarrei completamente nelas! Elas anunciavam que estavam chegando e eu pensava: “ oba, que delícia”! E então eu dançava feliz junto com elas, celebrando a descida da minha pequena a esse novo mundo! E entre um vislumbre e outro minha memória ancestral foi acessada, e me via dançando, tantas vezes grávida, e essa, mais uma vez, para guardar na lembrança. Me lembrava o quanto, antes, eu era mais conectada com a minha verdadeira essência, com a natureza pura das coisas, com a lua, com o ciclo natural de todas as coisas viventes, e naturalmente trazia essa doce lembrança para aquele momento. Tão simples, e descobri....que era isso que me faltou no parto do Vicente. Me faltou a lembrança de quem eu sou, como essência feminina, criadora e capaz de dar a luz, como é capaz uma árvore, de dar seus frutos a essa Terra.
Entre as reboladas na bola, as danças e as chuveiradas o tempo foi passando, na companhia que me bastava naquele momento, meu Ju querido, amado marido, que me dava o afago que eu precisava, na hora certa, e a minha amiga querida...e doula ( afinal, isso é só um detalhe hehehe), que me entedia quando eu esbravejava um “pqp”, ou “ essa mulherada é tudo doida de querer parto natural”!!!! kkkkkkkkkk! riamos eu e a Marília, de forma confidente,sabendo bem do que eu estava falando naquela hora.
Até que chegou o momento que eu ainda não conhecia, a fase de transição e de expulsão. Pois o parto do Vicente eu cheguei até um pouco antes da fase de transição  e acabei pedindo analgesia. Era essa fase que eu esperava, que eu tinha curiosidade, mas devo confessar, bastante medo também. E ela foi anunciada por um “ploc”. Então é isso que acontece quando a bolsa realmente estoura!”Ploc”!!!      Fui pisando em terreno desconhecido nesse momento. Senti-me inundada por um calafrio e tremor. Acho que é essa a sensação que deve dar quando alguém está prestes a desencarnar. Chamei a Marília: “Má do céu, estou na transição!” Então a Marília ligou para o médico, que havia acabado de sair do hospital, que deu meia volta e voltou. Depois disso foi muito rápido.
Lembro-me que a Marília, meio preocupada, pediu para que deitasse na postura da criança, para atrasar um pouquinho e dar tempo do médico chegar. Então olhei para o quarto, e todas as pessoas estavam meio preocupadas. No total 2 ou 3 enfermerias, o Juliano e a Marília.Então fui me preocupando tbem.  Affff, cadê esse médico!Pensando bem seria tão bom se eu não tivesse me preocupado com isso e tivesse  simplesmente deixado rolar.....Mas enfim, Galletto chegou para o meu alívio momentâneo, me convidou a ficar semi deitada ( porque eu aceitei hein? Medo?)e lá fui eu. Essa parte eu me atrapalhei um pouco. Talvez porque essa era a novidade, não conhecia essa parte. 
Mas mesmo não sendo como imaginei, em 3 forças a Cecilia escorregou para a cama e lembro que vi sua coxinha grossa e pensei: que fofa! Então a peguei para mim! O Juliano cortou o cordão um umbilical, estava feito, a Cecilia agora era ela, um pouco eu, cuidando dela, e ela em mim, mas era ela.
27 horas de bolsa rota parcial. 4 horas de trabalho de parto ativo. Nasceu naturalmente, no quarto do Hospital Evangélico. Veio com a benção de São João, no dia 24 de junho.



Lindo demais! Uma maravilha lembrar deste momento! Obrigada Lorena!!!

BjoS!

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